segunda-feira, 29 de junho de 2009

Ele não tinha muito. Nunca teve muito. Vivia na base do esculacho. No começo tinha medo, depois o medo deu lugar ao ódio. Sua cólera era mais revolta do que ódio; até então achava que sentia ódio. Tinha vergonha de falar com estranhos, sentia-se um estranho. Era filho de operário, sua mãe dona de casa, seus irmãos perdidos no mundo. Ele era magro de desnutrição, cabelos compridos, pele oleosa e um jeito rápido de andar.
Feito o personagem da raposa do romance “O pequeno príncipe” cercava-se das pessoas aos poucos, nunca tentava uma aproximação direta, frontal, esgueirava-se pelos cantos, metro a metro, quando o notavam, isso quando alguém o notava não falavam com ele, ele não se importava, essa era a sua maneira de tentar frear a solidão quando não dava certo bebia tudo que cabia no seu corpo magro; ficava falante.
Vivia de fazer bicos pesados, ajudava carregar ou descarregar caminhões de cimento. O serviço pesado o estava matando, sua coluna doía, já não conseguia mais pegar peso na cabeça.

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