quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A mulher no bar

Em algum momento da minha vida uma mulher olhou pra mim num bar cheio de gente interessante, achei que não fosse comigo, porque uma mulher daquelas, uma fada iria olhar para um cara como eu? Normalmente chegaria nela se estivesse bêbado, mas daquela mulher eu não conseguiria me aproximar nem bêbado. Um comedor de costela com mandioca de boteco como eu não lida bem com a rejeição. Enquanto troco de roupa sinto uma alegria confusa, com um misto de medo. Saio do vestiário já com roupa de hospital e máscara e fui para sala de espera; na sala tinha um aparelho antigo de medir os batimentos cardíacos desses que não se usava mais; um sofá de dois lugares de cada lado com mais dois pais vestidos como eu aguardando serem chamados. Em vinte minutos a enfermeira avisou que estava na hora; subi um lance de escada à esquerda do corredor, “Centro Cirúrgico” dizia a placa. Confuso. Apertei o interfone me indicaram a sala de vidro fumê de vai e vem, entrei. Daí para frente tudo ficou mais confuso ainda, parecia que meus olhos fotografavam cada movimento. A porta abriu, a enfermeira me pedia para tomar cuidado onde pisa-se. A Dany estava deitada com um pano separando sua cintura do resto do seu corpo, não dava para vê-la do outro lado da cortina; o assistente e o mesmo médico que tinha feito o parto da Dany 34 anos atrás  já tinha começado os procedimentos, quando vi  o sangue em suas mãos e a barriga da Dany aberta senti meus pés formigarem, fixei o chão; resisti a vontade de olhar novamente. Fui levado até uma banquinho sem encosto. Sentei.  Segurei a mão da Dany, minha mão estava gelada e suada, ela riu pra mim, aquele sorriso me confortou e me trouxe a terra novamente. Ela estava bem; ali atrás das cortinas eu evitava ficar de pé para ver o que os médicos faziam com o resto do seu corpo. A Dany é uma guerreira, sabia do medo dela, mas foi forte, agora a história seria outra, da outra vez foi tristeza; agora é pura alegria, êxtase. Duas moças filmavam e fotografavam; o Dr. avisa para abrir a janela; a família e os amigos estão todos do lado de fora aguardando. Eu e a Dany vemos quando nosso filho nasce, catarse, ele engasga, tenta de novo, engasga para em seguida chorar. Choramos juntos. Cortam o umbigo e o entregam para enfermeira. Só Deus para saber o que passamos para ter esse menino. Agora é realidade. A enfermeira o traz para perto da mãe, mãe e filho se olham pela primeira vez. Meus olhos ficam fora de foco. Limpo as lágrimas. Eles levam ele até uma mesa do outro lado e pedem para eu acompanhar. Limpam passam pomada nos seus olhos, colocam pulseiras de identificação, pronto agora ele tem código de barra com o nome da mãe impresso. Ele é embrulhado bem apertado e levado para a mãe novamente, eu ainda não consegui tocá-lo. A enfermeira encaixa ele no pescoço dela e pede para eu segurá-lo.  Ele chora a Dany fala com ele e roça seu rosto no dele; ele gosta e fica quieto, se senti seguro, ela pronuncia seu nome. Breno. Toco nele como se estivesse sendo apresentado ao novo amigo. É meu filho. Meu deus que vamos fazer agora? Será que ele vai ser um cara legal? Será que vai gostar de mim? Será que vou ser um bom pai para ele? Será que ele vai ser ator quando crescer? E mais um monte de serás.  Tinha me esquecido das pessoas do lado de fora da sala. Peguei o Breno, aquele ser pequeno, frágil e o suspendi para que eles pudessem vê-lo. As avós, bisavós, tio, tia, primos e amigos fotografavam, riam, comemoravam.  Nosso filho nasceu.